quarta-feira, 17 de agosto de 2011

FETICHE

Brisa dos Dias
Crescer ou morrer?
Por:Eduardo Cabrita, Deputado do PS
Os dados económicos desta semana confirmam o abrandamento da economia internacional e a crescente incapacidade do pensamento único liberal para motivar os povos para sacrifícios redentores de um futuro animado por mercados confiantes e salvadores.
Já não são só mal-amados como Krugman e Stiglitz que dizem que mais austeridade não salva o doente e pode até matá-lo. Face à paralisia da economia americana, à velha doença japonesa e ao inesperado abrandamento franco-alemão, é a nova diva do FMI, a senhora Lagarde, que vem pedir aos Estados mais ricos para não bloquearem o crescimento económico, isto é, que evitem a depressão geral.
Em 2008, a ganância em êxtase com os lucros sempre crescentes ia provando a tese marxista da capacidade de autodestruição do capitalismo. A banca foi salva pelo velho e gordo Estado, que pôs os remediados a pagar e os pobres a penar pelos desvarios dos ricos. Desde então, a taça da vingança tem sido servida gelada, entre a crise dos modelos sociais e uma visão messiânica da economia. O irrealismo ideológico só é comparável na insensatez com a velha marcha dos amanhãs que cantam, que esquecia as vítimas do Gulag no caminho para a Terra Prometida vermelha. Aqui os esquecidos são os pobres, os desempregados, os imigrantes todos com uma vaga suspeita de culpa indolente pela sua sorte.
O Tea Party e o ódio a Obama ameaçam ano e meio de bloqueio político com pesados custos para todos, não só os americanos. Merkel arrasta o pé a decisões urgentes para evitar a atração pelo Dia do Juízo Final europeu. A Portugal as doutrinas chegam tarde mas os nossos aprendizes de feiticeiro têm a volúpia de brincar com o fogo criando mais recessão. Depois do imposto extraordinário, veio a eletricidade e a promessa gulosa de mais dois aumentos de IVA – um para aumentar a receita e outro para compensar o fetiche ideológico da baixa da TSU para as empresas. A surpresa no segundo trimestre é que, apesar da crise política, as exportações cresceram 17% e o PIB não afundou relativamente ao início do ano, mas a caminho do paraíso liberal Passos, Gaspar e Álvaro vão conseguir… até o doente se revoltar ou não mais resistir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário